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Intervenção do Bloco na Sessão Solene do 25 de Abril da Assembleia Municipal de Loures

O Bloco de Esquerda esteve presente nas comemorações dos 45 anos do 25 de Abril de 1974. Vitor Edmundo, eleito na Assembleia Municipal de Loures, discursou para o público presente, arrancando aplausos de todas as bancadas. Listamos o discurso do deputado municipal Vitor Edmundo na íntegra.

Sessão Solene do 25 de abril de 2019 da Assembleia Municipal de Loures

Sr. Presidente da Assembleia Municipal,

Senhoras e Senhores deputados municipais

Sr. Presidente da Câmara Municipal

Senhoras e Senhores Vereadores

Povo de Loures

Minhas Senhoras e meus Senhores

O 25 de Abril tem hoje a idade de um cidadão adulto, 45 anos.

Idade suficiente para que milhões de portuguesas e de portugueses tenham nascido e crescido sem saberem o que é a guerra, sem saber o que é sofrer por falta de cuidados de saúde, sem saber o que é não se poderem reunir ou expressarem-se livremente, sem saber que a regra era o analfabetismo e não a Escola Pública Universal, sem saber que o simples facto de ter opinião era proibido.

Eu conheci tudo isso. Sou de uma geração que conheceu os horrores da guerra, a tirania da ditadura do Estado Novo, a cobardia da polícia política, a pequenez de um regime que, baseado no medo, se impôs pelo autoritarismo, pela repressão e pela morte.

Dou o valor a este dia com a força de quem viu nascer a democracia portuguesa nas ruas deste concelho. Grândola vila morena, o povo é quem mais ordena!

Lembro-me do entusiasmo da libertação das antigas colónias e o regresso dos soldados, do fim do fascismo português, da construção do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, dos sindicatos livres, da ocupação de casas devolutas, “Casa sim, Barracas não”…

É verdade.

A democracia portuguesa faz anos, mas a prenda que lhe devemos, principalmente pelos que caíram e por ela lutaram, é garantir que as gerações que nos substituirão tenham redobradas razões para continuar a construir Abril e a perseguir as suas conquistas.

Todas e todos somos herdeiros e donos desse passado.

Mas, por mais alegria que estas memórias me tragam, não vivo nas saudades deste tempo.

Os momentos incertos e turbulentos do presente, obrigam-nos a recordar o passado, é certo, mas acima de tudo, obriga-nos a estarmos bem cientes do presente e acautelarmos o futuro.

E o presente interpela-nos de várias maneiras. Todos os dias nos interpela.

E é sobre esse desafio que, em nome do Bloco de Esquerda, vos pretendo falar.

Falar-vos, daquilo que a nossa democracia precisa de responder.

E precisa de responder:

A quem não encontra emprego;

A quem a precariedade desestabiliza o futuro;

A quem viu a crise levar para além-fronteiras, os seus vizinhos, os seus amigos, os seus filhos e os seus netos;

A quem vê o Metro como uma promessa distante;

A quem paga IMI há anos, mas não vê a sua casa legalizada;

A quem os medicamentos levam a pensão;

A quem paga mais pela creche do que por um curso na Universidade;

A quem, por viver num bairro social, por pertencer a uma minoria étnica, por ter outra nacionalidade, por ser afrodescendente… É alvo de ódio, racismo e exclusão;

A quem por ser mulher ou pela sua orientação sexual é vítima de discriminação;

A quem sente raiva e a angústia por se levantar cedo todos os dias e se deitar tarde todos os dias e o salário não dar para todos os dias:

É preciso haver resposta:

A quem faz para manter o seu pequeno negócio ou a sua pequena empresa, uma batalha diária;

A quem vem debaixo e sabe que o sol não brilha todos os dias e que subir os degraus da vida custa o dobro e não desiste de lutar pelo seu futuro;

É preciso haver resposta:

A quem ocupa as ruas e nos alerta para a urgência da resposta às alterações climáticas;

É preciso haver resposta:

A quem exige que o poder local democrático explore as suas competências até ao seu limite e não se refugie nas malhas administrativas para não responder às necessidades das populações.

É preciso haver resposta:

A quem espera que os governantes em geral e os representantes autárquicos em particular, governem em nome do povo e não se governem a si próprios;

Caras e caros munícipes, minhas Senhoras e meus Senhores,

A democracia terá a força que lhe dermos. Se for a casa dos comuns e combater o privilégio dos interesses. Se inspirar os caminhos do futuro e vencer a descrença. Se assim for fará sempre frente aos fantasmas do passado e sobreviverá a qualquer longa noite de inverno.

Esse é o compromisso que hoje, perante a cidadania de Loures, o Bloco de Esquerda reafirma.

Estamos prontos para assumir esse compromisso. Contem connosco.

25 de abril sempre, fascismo nunca mais!

Loures, 25 de Abril de 2019

O deputado municipal do Bloco de Esquerda,

Vitor Edmundo