A precariedade, o desemprego, os lay-off, as prestações sociais, enfim, a perda de rendimentos de muitos agregados familiares, tornam os Assistentes Sociais, mais uma vez, profissionais da linha da frente, pois, eles conhecem bem a realidade no terreno. Artigo de Paula Teixeira.
Eu sei, Covid-19, que nem chegaste a partir, mas aos poucos vamos começar a sair.
Estamos a prepararmo-nos para o fim do estado de emergência, a planear o desconfinamento e a ter de fitar com toda a força o estado de emergência social, que grande Fado!
O incerto e as dúvidas em tempos de Pandemia criam-nos esta estranha forma de vida, com sentimentos confusos. É, pois, compreensível que encontremos pessoas zangadas, chateadas com este inimigo invisível que está a pôr o mundo de cabeça para baixo, em que todos somos, de alguma forma, vítimas deste vírus.
Sou assistente social, desde o primeiro dia de confinamento a ansiedade é muita, pois, sabendo que se trata de um vírus aparentemente democrático, muito rapidamente consegue mostrar-nos as grandes desigualdades existentes na sociedade. Para os profissionais da área social foi impossível ver ao longe o problema, ele estava já ali a acontecer, era um monstro desconhecido com impacto imediato nos mais vulneráveis.
Assistentes sociais e outros técnicos do “terreno” têm estado na linha da frente do estado de emergência social e estão habituados a viver com o inesperado e com o que muitos nem sequer querem pensar, mas estes são tempos excecionais, que exigem uma grande capacidade de ajuste rápido e polivalência, já que a uma crise sanitária, junta-se uma crise económica e social sem precedentes.
Trabalho numa resposta social na área da infância, com itinerância, deslocando-me a domicílios e escolas, por esse motivo em situação de Pandemia o Teletrabalho foi uma solução imposta. Confesso que para quem está habituado a estar no terreno e sabe que tem de estar na linha da frente do estado de emergência social, foi difícil não frustrar numa fase inicial, ainda por cima em casa com filhos, em dupla função de trabalhar e cuidar, foi arrebatador, achava sempre que tinha de fazer mais.
No entanto, passados 44 dias os resultados do teletrabalho foram muito positivos em diferentes sectores sociais e, não sendo obviamente a mesma coisa, foi possível encontrar novas soluções para esta situação excecional.
Foi necessário adaptar de imediato, gerir recursos das equipas e conectar com todos os intervenientes (serviços de saúde, segurança social, escolas e famílias), foi o poder da comunicação, da informação e, acima de tudo, continuar a ser agente privilegiado de inclusão dos indivíduos e das famílias acompanhadas, garantindo que elas nunca se sintam desapoiadas.
No entanto, existem respostas sociais que não podem ser feitas fora do terreno, em teletrabalho, e daí a necessidade de proteção, (crise sanitária versus crise social) para que os profissionais possam assistir os outros em segurança. Esse é um dos fatores de preocupação do setor social quanto ao “desconfinamento”: ele não pode existir sem os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários e sem orientações concretas da Segurança Social e da DGS.
Para reabrir o país é necessário conhecer ao máximo, em diferentes sectores, o impacto do vírus, não só nos serviços de saúde, mas o impacto social nas famílias, de forma a planear, ao pormenor, como todos os sectores se deverão comportar.
A precariedade, o desemprego, os lay-off, as prestações sociais, enfim, a perda de rendimentos de muitos agregados familiares, tornam os Assistentes Sociais, mais uma vez, profissionais da linha da frente, pois, eles conhecem bem a realidade no terreno. Terão de ter uma voz ativa nas mais diversas áreas. Muitos são os que têm estado nos hospitais, Estruturas Residenciais da Pessoa Idosa (ERPI), Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), Centros de Acolhimento Sem-abrigo, Ação Social, entre outras respostas. Mas não basta serem considerados profissionais da linha da frente, terão de ser tratados como tal, no sentido dos EPI serem distribuídos a Assistentes Sociais e outros técnicos que trabalham no “terreno”.
Neste tempo de pandemia, todos os Assistentes Sociais são necessários na condução de campanhas de sensibilização para o isolamento, para levarem palavras de conforto e fazerem a ponte, entre familiares e doentes internados, no atendimento social, como defensores dos direitos das famílias, na realização de um diagnóstico social atual, entre tantas outras responsabilidades, seja no direto ou em teletrabalho.
Hoje em tempos de Pandemia entre o dia 25 de abril e o dia 1 de maio, este o meu Fado, o nosso Fado das dúvidas.
Paula Teixeira é Assistente Social e deputada municipal do Bloco de Esquerda.