Bloquistas alertam para necessidade do resgate público dos CTT e apelam a todas as formas de luta para evitar encerramento do balcão que serve as populações Camarate, Unhos e Apelação.
O Bloco de Esquerda de Loures vem repudiar totalmente as anunciadas intenções da administração dos CTT de encerrar o balcão de Camarate, como parte de uma “reestruturação” nacional, que contempla ainda o fecho de outros 21 balcões espalhados pelo país e o despedimento de um milhar de trabalhadores.
Para Fabian Figueiredo, dirigente nacional do Bloco de Esquerda e candidato à Câmara Municipal de Loures nas últimas eleições autárquicas, “é hoje de consenso geral que a privatização dos CTT piorou o serviço de distribuição postal a todos os portugueses, a tal ponto que pode ser já considerado um exemplo de má prestação de serviço público e, sobretudo, de um negócio ruinoso para a própria empresa, para o Estado e para o país».
O encerramento do balcão de Camarate, que serve uma população de mais de 35 mil pessoas da freguesia de Camarate, Unhos e Apelação, é um “bom exemplo desse negócio ruinoso, em consequência do qual os cidadãos se viram, de um momento para o outro, privados de um excelente serviço de distribuição postal”.
Para Fabian Figueiredo, “é urgente e essencial combater este encerramento, como outros pelo país, e usar de todos os meios a nível local e nacional para que a população de Camarate não deixe de poder usufruir de um serviço fundamental para o seu dia-a-dia”.
Importa sublinhar que a população idosa “recorre aos balcões dos CTT para receber as suas reformas e fazer os pagamentos das contas da água, luz e eletricidade, entre outras valências que lhes são agora retiradas”, refere ainda o dirigente bloquista.
De serviço postal universal a fonte de lucro para a banca
Recorde-se que, antes da privatização, o Governo PSD/CDS garantiu aos futuros acionistas dos CTT dois brindes: a venda exclusiva dos certificados de aforro, e uma licença bancária para transformar a imensa rede dos Correios num banco. A oportunidade não foi desaproveitada e, em dezembro de 2013, 68,5% do capital dos CTT foi disperso em bolsa, tendo como maiores compradores o Goldman Sachs, o Deutsche Bank e o Unicredit.
E, apesar de terem sido proprietários da empresa apenas durante 25 dias de 2013, estes acionistas decidiram para si uma muito choruda distribuição dos lucros desse ano.
Meses depois, os CTT valiam já em bolsa mais 240 milhões em relação ao valor da venda. Um verdadeiro “Euromilhões” para os bancos e fundos estrangeiros que tinham adquirido as ações na primeira fase de privatização. Em 2014, o Governo de Passos Coelho vende os restantes 31,5% por menos 343 milhões que o valor de mercado do dia anterior.
Importa ainda referir que os CTT sempre foram uma empresa lucrativa. Só entre 2005 e 2013, os correios tiveram lucros superiores a 500 milhões de euros. A diferença é que, agora, esses lucros não estão a ser entregues ao Estado ou reinvestidos na empresa, mas estão a ser apropriados pelos seus acionistas.
Em 2012, os lucros foram de 36 milhões, mas 50 milhões foram para os acionistas. Em 2013, de um lucro de 61 milhões, 60 milhões foram distribuídos. No ano seguinte, foram distribuídos 70 dos 78 milhões de lucro. Em 2015, entregaram 71 milhões e o lucro tinha sido de 72 milhões.
Finalmente, em 2016, pouco tempo antes de a empresa anunciar que iria dispensar 800 trabalhadores, os acionistas ficaram com 74 milhões em dividendos. Acontece que, nesse ano, a empresa tinha lucrado apenas 62 milhões, o que quer dizer que o resto veio das reservas dos CTT.
É hoje consensual que os CTT prestam um serviço muito pior. Há trabalhadores em falta e desrespeito pelos existentes. E, agora, a mesma Administração e os mesmos acionistas que estão a enriquecer com os lucros dos CTT anunciam a necessidade de dispensar mais 1.000 pessoas.
Há duas opções em cima da mesa, esperar para ver a quantos milhões é que isso vale aos bolsos dos acionistas ou resgatar para o setor público o que nunca devia ter sido privado. Já toda a gente percebeu que há uma razão para os correios serem públicos na maioria dos países europeus e que nunca deviam ter sido privatizados.